Encontro é realizado nesta terça, 10, em lembrança ao 8 de março
Nesta terça-feira, 10 de março, o Sindprev-ES promoveu um importante debate em lembrança ao Dia Internacional da Mulher (8 de março). A atividade aconteceu no auditório do INSS, na Avenida Beira Mar, em Vitória. E apontou formas de enfrentamento das violências sofridas pelas mulheres.
Notícias e estatísticas comprovam que ser mulher no Brasil (e no mundo) não é nada fácil. Na realidade, é uma luta diária para enfrentamento de uma sociedade que insiste em promover uma cultura machista, enraizada no patriarcado, no racismo e na exploração pelo capital.
A luta das mulheres é intensa e diuturna. Vai desde a quebra da questão cultural de que elas devem cuidar das tarefas domésticas; passando pela luta contra o não reconhecimento de capacidade laboral e intelectual; pela reduzida participação política; chegando na luta pela sobrevivência contra as formas mais cruéis de violências: a psicológica e a física, que muitas das vezes culminam nos numerosos casos de feminicídio que ainda são uma triste realidade no Brasil.
A assistente social e militante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), Nildete Turra foi a palestrante do debate. Ela fez um histórico da luta feminista no Estado e no País, destacando a articulação das mulheres brasileiras ao longo dos anos 1990, que culminaram com a criação de legislação e de instrumentos importantes na luta contra a violência contra as mulheres, como as delegacias das mulheres e a Lei Maria da Penha, em 2006.
Ela inseriu a criação do Fomes, vinculado à Articulação de Mulheres Brasileiras, nesta contextualização. Criado em 1992, o Fórum é um dos baluartes da luta feminista no Espírito Santo. Ele que organiza a já tradicional Marcha das Mulheres, que neste ano aconteceu nas ruas de Vitória no dia 6 de março (sexta-feira), contando com a participação do Sindprev-ES.
Em sua fala, Nildete apontou que seria ideal as mulheres estarem comemorando. Mas a realidade é outra.
“A gente gostaria de estar aqui só comemorando, só elogiando as mulheres. Como a grande mídia e o comércio gostam de fazer, entregando flores, dando parabéns. Mas a realidade é trágica para a vida das mulheres. A realidade é de muita violência. Se a gente não fala dela (da violência), se a gente não a conhece, a gente não tem como combatê-la”, assinalou.
Nildete elencou as mais variadas formas de violências contra as mulheres, fazendo o recorte da questão do gênero, colocando as mulheres trans também como vítimas da violência, tecendo o recorte racial, apontando que a mulher negra acaba sendo a mais violentada: seja na questão do assédio, seja na falta de representação política, seja no número de feminicídios, que matam mais as mulheres negras.
Estratégias de enfrentamento
Após mostrar números (das violências: assédio, feminicídios, casos de estupro, entre outros) que revelam a triste realidade da mulher no País, Nildete apresentou estratégias de enfrentamento das violências.
“As vítimas de violência dos homens precisam ter seu espaço de organização e enfrentamento. A estratégia mais geral para se colocar fim à violência e às desigualdades é que precisamos atacar os três pilares que dão sustentação: o racismo, o capitalismo e o patriarcado. Essas três estão casadas. Se não transformar a sociedade, não tem como colocar fim. Não vamos acabar com as desigualdades de gênero e com a violência dentro da sociedade, achar isso é romantismo. Mas temos que lutar para transformar essa cultura da violência”, apontou.
Depois da fala da assistente social, a diretora do Sindprev-ES Marli Brígida lembrou que milita no movimento feminista desde a década de 1970, destacando como iniciou essa luta aqui no Estado. Ela concorda que a mudança da sociedade é fundamental para erradicar a violência contra a mulher.
“A sociedade tem que ser diferente não pode ser igual da Rússia, de Cuba, da Venezuela. Ela tem que passar por uma mudança de realidade. Do machismo, do racismo, do capitalismo. Homem e mulheres iguais – não falo de orientação sexual. Falo que tenhamos as mesmas oportunidades. Para que há a riqueza se não para o bem estar do ser humano”, questionou.
A funcionária do Sindprev-ES Vilma Santos fez uma fala, apontando que as mulheres devem exigir respeito nos espaços: família, igreja, trabalho. “Ninguém vai te respeitar se você não exigir esse respeito. Tem que se fazer valer desde sempre, cobrar esse respeito seja em casa, na igreja, onde quer que seja”.
Kátia Leite, esposa do diretor Francisco dos Santos Filho, o Chiquinho, falou sobre as dificuldades de ser negra e adepta do candomblé, religião de matriz africana. Ela citou os preconceitos com rituais da religião e também abordou sobre o machismo em meio ao candomblé, que é uma manifestação religiosa que, historicamente, tem dado espaço para a mulher negra se emancipar na luta contra o preconceito, a discriminação e outras formas de opressão.
Companheira Ilma é lembrada
A assistente social e militante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), Nildete Turra iniciou sua fala lembrando a ex-funcionária do Sindprev-ES Ilma Viana, que faleceu em fevereiro de 2017.
“Ilma foi militante do Movimento Negro, também do movimento feminista, uma perda muito grande, que tivemos dessa companheira, que está presente na história do nosso Fórum, já tendo sido homenageada em outra ocasião. Companheira, Ilma presente”, disse Nildete, emocionada com a lembrança.
Confraternização
Quando terminou o debate, as/os participantes do evento cantaram e dançaram músicas do movimento feminista. O encontro terminou com almoço em um restaurante próximo do INSS, finalizando a atividade do Sindprev-ES em lembrança ao 8 de março.